Poucos temas despertam tanta
curiosidade e estudo quanto o vocábulo “Orixá”. Muitas correntes de pensamentos
tentam defini-la filosófica e até conceitualmente sem chegarem a um consenso;
um pouco devido às ideias cristalizadas ou à nossa pouca habitualidade de tratar
da nossa evolução como possível, através de exercícios de reflexões e
meditações profundas.
Muitos chegam a tecer extensos
pergaminhos de conhecimentos e tratados extraordinários sem ao menos resvalar
de leve nos misteriosos caminhos Divinos.
Pensando nisso, para que possamos
refletir sobre este assunto, retrato a seguir sob o olhar de diversos autores,
definições e explicações desse mundo tão diverso e interessante, que procuram nos
trazer entendimento e até conceituação dos atributos dos Orixás.
É necessário, para correta
interpretação dos textos, nos despojarmos de todo e qualquer conceito
estabelecido em nossas mentes, seja religioso ou científico, sob pena de
julgamentos precipitados que certamente nos levarão ao descrédito dos
fundamentos expostos.
Livro - Umbanda Sagrada, Religião, Ciência, Magia e Mistérios – Rubens Saraceni.
Livro - As Sete Linhas de Umbanda – A religião dos Mistérios – Rubens Saraceni.
“Orixás são as divindades de Deus
que concretizam sua criação e, dão sustentação a ela o tempo todo, pois são, em
si, os processos criadores de Deus”.
- Oxum
não é as pedras minerais. Mas estas são a concretização de um atributo
exclusivo dele: a agregação dos outros elementos.
- Yemanjá
não é a água. Mas esta é a concretização de um atributo exclusivo dela:
desencadear os processos genéticos ou geradores.
- Assim
todos os outros Orixás da umbanda.
Nem índios nativos nem os povos
africanos adoravam a natureza em si, mas sim as potências associadas aos muitos
aspectos desta natureza viva e capaz de alimentá-los ou de castigá-los com
inclemência caso lhes fugisse do controle.
Nos trás Saraceni o seguinte:
Orixás Ancestrais (Telas Mentais Divinas) – Divindades por onde
Olorum flui o tempo todo e durante todo o tempo, manifestando-se a todos e em
todos os níveis, por inteiro e em todos os sentidos.
Orixás Naturais – Regentes das dimensões onde a vida se processa em
nível original. Puros e unielementais.
- Oxum é
a regente natural do amor (concepção).
- Yemanjá
é a regente natural da geração (maternidade).
Orixás Dimensionais (Regentes de Dimensões) – Desdobramentos ou
amalgamações energéticas dos Orixás Naturais.
Orixás Encantados (Regentes de Reinos Naturais) – Divindades
assentadas em reinos naturais que sustentam vibratoriamente, milhões de seres chamados
de “encantados” da natureza.
Orixás Mistos ou Polielementais (Regentes dos Níveis Vibratórios) –
Atuam no sentido de atraírem os seres naturais ou “encantados” afins e
repelirem os não-afins.
Orixás Auxiliares ou Regentes de Subníveis Vibratórios – Têm como
função intervir quando desvios acontecem nos subníveis evolutivos, ou então
ocorrem desequilíbrios energo-magnéticos.
Livro - A Missão da Umbanda - Ramatís / Norberto Peixoto.
Existem vários padrões
vibratórios que envolvem nosso orbe e o Cosmo; os Orixás atuam em faixas de
frequência vibratória que se interpenetram. Essas forças divinas, subatômicas,
são “acondicionadas” em várias combinações, em ritmos peculiares, ocasionadas
por seus próprios movimentos, traduzindo a imensidão cósmica do Incriado, em maior
ou menor amplitude de ondas, em maior ou menor grau de densidade. No Universo,
tudo é energia em diferentes estágios de condensação.
O que mais se aproxima do vosso
entendimento é que os Orixás são emanações oriundas do Divino, expressas desde
as dimensões imateriais sem forma até os mundos manifestados na forma (astral,
etérico, físico) em planos de vida distintos, de faixas vibratórias
específicas. O que mantém a harmonia universal são os Orixás, vibrações
cósmicas conhecidas milenarmente pelas religiões e filosofias orientais e que
agora estão sendo elucidadas com maior clareza para o Ocidente.
Toda a condensação de energia
movimentada no Cosmo tem, inicialmente, a atuação de uma mente poderosa, seja
um ser angélico, um engenheiro sideral, um arcanjo, seja um mentor
ascencionado, consciências estas individualizadas de alta estirpe evolutiva que
atuam como “Orixás maiores”. Mas tudo no Cosmo parte de uma força maior,
abstrata, sem forma e manifestação, que nunca teve ou terá individualização, sendo
única e inigualável, mantendo a própria coesão energética do Universo
manifestado nas formas, desde os planos superiores, menos condensados e
rarefeitos, até o Astral mais inferior, condensado e denso; repercute
vibratoriamente em vós, como se o plano material fosse um gigantesco
mata-borrão: nas matas, nas cachoeiras, nos mares, no ar, no fogo, na terra,
nos homens, animais, todos como variações de energias espirituais pulsantes em
vida infinita, alimentadas pelo Eterno. Os poderes volitivos dos Orixás são a origem
de todo o processo de agregação de energia, formadores de todas as dimensões do
Cosmo imensurável.
Livro - Umbanda Pé no Chão - Ramatís / Norberto Peixoto.
Os Orixás são aspectos da
Divindade, altas vibrações cósmicas que se rebaixam até nós, propiciando a
apresentação da vida em todo o Universo.
Cada um dos Orixás tem peculiaridades
e correspondências próprias na Terra: cor, som, mineral, planeta regente,
elemento, signo zodiacal, essências, ervas, entre outras afinidades
astro-magnéticas que fundamentam a magia na Umbanda por linha vibratória.
Encontraremos nos sítios vibracionais
dos Orixás sempre três reinos: animal, vegetal e mineral.
Os sítios vibracionais principais
são: mar, praia, rio, cachoeira, montanha, pedreira e mata, os quais
descrevemos a seguir:
Mar: tudo no mar é
movimento. Seu incessante vai e vem é a própria pulsação da vida, com sua
expansão e contração, cheia e vazante, levando tudo o que é negativo, transformando-o
e devolvendo convertido em positivo. Seu próprio som expressa essa possante e
magnífica transformação.
Praia: tem praticamente a
mesma composição do mar, sendo condensadora, plasmadora, fertilizante e
propiciatória. Faz um potente equilíbrio elétrico, desimpregnando, descarregando
excessos e promovendo o equilíbrio da energia interna do indivíduo.
Rio: condutor, fluente,
sem ser condensador, faz as energias fluírem e também vitaliza. É muito importante
numa purificação astro-física do indivíduo e na eliminação de cargas negativas.
Cachoeira: encontramos
elementos coesivos das pedras (mineral) e água potencializada na queda da
cachoeira, que produzem ou conduzem várias formas de energia. Como as águas
fluem num só sentido, purificam, descarregam, vitalizam, equilibram e
fortalecem o indivíduo como um todo (no físico-elétrico).
Pedreira: reestrutura a
forma, regenera, fixa, condensa, plasma e dá resistência mental, astral e física
ao indivíduo.
Mata: condensa prana
(energia vital), restabelece a fisiologia orgânica, principalmente a psíquica,
fortalece a aura, o campo astral, o eletromagnetismo, a saúde, o mediunismo,
plasmando forças sutis.
Montanha: mesmo
procedimento anterior, havendo predominância dos elementos eólicos.
Livro - Mediunidade e Sacerdócio – Vovó Maria Conga e Ramatís /
Norberto Peixoto.
A palavra “Orixá”, em seus
aspectos básicos de interpretação, quer dizer: ”luz do senhor”, “mensageiro”, “força
de cabeça”. “Ori” significa “cabeça”, elemento primaz para o pensamento
contínuo, o discernimento e o poder criativo da mente. “Xá” é força
característica, essência divina. Trata-se de uma corruptela de “Purushá”, senhor da força sutil,
regente da natureza, manifestação diferenciada das qualidades e fatores de
Deus. O Orixá de cada individualidade não tem a ver com uma entidade
extracorpórea, mas com uma essência primordial e básica, energética e
vibratória, que influencia o modo de ser e o destino de cada espírito, seja
encarnado ou desencarnado, demarcando profundamente a mônada (centro vibrado do
espírito) do ente individualizado.
Não há como falar em Orixá sem
citar os mitos. Os cultos da matriz africana foram disseminados no Brasil pelos
descendentes dos escravos que para cá vieram. Longe de suas terras de origem e
separados de suas famílias, os negros escravos mantiveram na fé a única maneira
de sobreviver diante da ignomínia e dos maus tratos que receberam. No interior
das senzalas insípidas, entre amores, traições, assassinatos e contendas,
preservaram as histórias ancestrais que personificam os Orixás como homens e
mulheres.
Através das figuras humanas e
historietas romanceadas mantidas pela oralidade, de geração a geração, foram
preservados os conhecimentos das essências ou fatores divinos da cosmogonia
religiosa, preponderantemente a yorubá. Com as lendas e antropomorfismo de cada
Orixá (fator divino), eles são interpretados como humanos com poderes
sobrenaturais para exercerem o domínio sobre um reino da natureza. Pela
representação simbólica de seus aspectos comportamentais, com atributos de
divindade materializados numa personalidade, aproxima-se o intangível
sacralizado do tangível profano. O sagrado passou a fazer parte da manifestação
das almas encarnadas e o próprio corpo o receptáculo, através do transe
ritualístico.
Livro - Evolução no Planeta Azul – Vovó Maria Conga / Norberto Peixoto.
Orixás são vibrações cósmicas. As
forças sutis que propiciam a manifestação da vida em todo o Universo têm a
influência dos Orixás, como se fosse o próprio hálito de Deus. Por isso se diz
que a própria natureza manifesta na Terra, por intermédio dos elementos do
fogo, da água, da terra e do ar, é a concretização das vibrações dos Orixás aos
homens, embora não seja em si essas energias, mas emanada deles, dos Orixás. É
preciso compreender que existem vários planos vibratórios no Cosmo, e que Deus,
em sua benevolência e infinito amor, em todos se manifesta pelas vibrações
próprias a cada dimensão. É como se os Orixás fossem regentes ou senhores das
energias em cada Universo dimensional manifestado, mas não as próprias
energias.
Neste momento, almejamos trazer
esclarecimentos os mais simples possíveis, já que o entendimento dos filhos não
dá saltos. É por causa do misterioso, do “inatingível” para a maioria, que se
criaram tantas desavenças e discórdias na história espiritual e religiosa dos
homens. Respeitamos todas as formas de entendimento disponíveis sobre os
Orixás, mas não podemos concordar com as personalidades agressivas, volúveis,
sensuais, vingativas, e as histórias humanas de paixão e dor, tragédias e
desavenças, de assassinatos e traições, que foram utilizadas pela tradição oral
de transmissão de conhecimento dos cultos africanos mais remotos, e que para
muitos definem o que sejam os Orixás até os dias atuais (*). Sabemos que
existem traços comportamentais e psíquicos em comum que se formaram ao longo do
tempo no inconsciente dos homens, e manifestas na vida humana, pois em todos os
filhos estão as potencialidades dos Orixás, e em todos os planos de vida do
Criador, já que nos é destinado o retorno a esse Todo, pois somos unidades
provindas desse manancial absoluto no Universo, que é Deus.
(*) – Os grandes princípios cósmicos, que também se acham presentes
no psiquismo humano, foram didaticamente simbolizados, na Antiguidade, nos
deuses mitológicos. Nesse sentido, a mitologia grega é incomparável: seus
deuses são personificações perfeitas dessas forças macrocósmicas (Orixás) e da
alma humana, onde se refletem.
Exemplo: o princípio da ação, da luta, que tanto materializa
Universo, como incita o homem à luta pela sobrevivência, pela evolução e
finalmente pela libertação das formas, foi personificado em ARES (Marte) – Não Áries,
o carneiro -, o deus da guerra. É o mesmo arquétipo de OGUM. E assim
sucessivamente com todos os Orixás, para que consigamos entender essas
vibrações cósmicas no nosso Universo manifestado.
Nos cultos populares, retomou-se essa personificação, e a simplicidade
da mente popular os dotou de histórias, emoções, paixões e rivalidades. Tomando
ao pé da letra a forma pelo conteúdo – exatamente como fazia a mentalidade do
povo da Grécia antiga, em Roma, no Egito, e pelo mundo afora.