terça-feira, 30 de setembro de 2014

A Folha e a Árvore.


Te alimentei por determinado tempo e lhe ensinei toda a minha sabedoria e do alto de tua morada vislumbrava o céu e o chão que iria um dia te recolher.

No início, na sua juventude, o vento, o frio, o sol e a chuva pouco te incomodavam, mas nada é para sempre, tudo tem seu princípio e fim.

Quando desprendida de tua ligação materna, flutuou nos ares do Conhecimento Cósmico, solitária, tomando direções aleatórias e mal definidas, levada pelos fluxos incessantes da vida.

Ocultando suas possibilidades de entendimento se deixou levar pelas forças da natureza, ora para baixo, ora para cima, ora para os lados.

Após o desarme das amarras físicas, uma sensação de abandono evidenciou-se e a gelidez percorreu as nervuras de seu ser. A seiva não mais percorria suas veias alimentares e o colorido esvaia-se lentamente.

Agora, de baixo para cima, o fundo verde de diversos tons se distanciava rapidamente e a sensação de vazio crescia à medida que aquela terra se aproximava.

Pequenos seres despediram-se de antemão, seguindo caminhos e tarefas independentes e igualmente consideráveis.

O choro abafado e imperceptível aos capilares auditivos das almas humanas, fremiam nos sensíveis corações dos despertos do amanhã.

O Sol se fora e a Lua chegara.

As pequeninas criaturas preparadas para o esvaziamento de vida e o “Apocalipse” trabalhavam arduamente para a efetivação dos desígnios da existência.

E assim acomodaram-na afetuosamente no último reduto, no solo sagrado da “Mãe Terra”.





quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O Preço do Orgulho

Os afazeres nas manhãs de sábado, naquela família, eram rotineiros, quase tradicionais. Era o dia da faxina.

Cabia à mãe coordenar as atividades, distribuindo às filhas os deveres domésticos, enquanto aos filhos cabiam os deveres do mundo.

Injusta ou não, essa era a estrutura familiar vigente.

Certa manhã, após grande esforço físico e tempo dedicado, Cecília terminava de encerar e fazer brilhar o assoalho da sala.

Sem os recursos da tecnologia, fazer com que as tábuas de madeira, gastas com o tempo, reluzissem tal qual a mãe queria, não era tarefa fácil.

Quase a concluir o serviço, surgiu à porta seu irmão gêmeo, Jeremias.

Ao vê-lo adentrar a sala, imediatamente Cecília o proibiu de dar um passo a mais. Afirmava que ele deveria dar a volta, pelos fundos da casa e entrar pela cozinha. Nem pensar em atravessar a sala, perfeitamente brilhante, como desejava a mãe.

Ele insistiu e deu uns passos para dentro. Ela, cansada, ficou com muita raiva e gritou: Se pisar nesta sala, que estou acabando de encerar, nunca mais falo com você!!

O irmão achou divertido o desafio. Riu e andou, a passos firmes, sala adentro.

Furiosa com as pegadas empoeiradas do irmão, que ficou do outro lado, a afrontá-la, tomando tudo como uma grande brincadeira, Cecília cumpriu sua promessa.

Nos primeiros dias, todos os familiares acreditavam que se tratava de uma birra.

Porém, as semanas foram passando céleres, e o silêncio entre os dois não se modificou.

Ela não cedia, pois havia feito claramente uma promessa. Ele não se aproximava, pois via naquilo tudo uma infantilidade da irmã.

Os anos foram se somando. O silêncio passou a ser hábito entre os dois.

Eles se enamoraram cada qual se casou e deixou a casa dos pais, constituindo suas próprias famílias.

Os anos não modificaram a disposição de nenhum deles. Ninguém cedeu, tentou reaproximação, diluir algo que acontecera, num dia que já se fazia distante.

Vinte e cinco anos se passaram desde aquela tolice de uma manhã de sábado.

O telefone tocou e a notícia atingiu o coração de Jeremias como um gélido punhal.

Rapidamente foi ao encontro da irmã no hospital, vitimada por um acidente vascular cerebral.

Ao vê-la imóvel no leito, deu-se conta dos anos corridos, da grande tolice que ambos se permitiram.

Por orgulho, mantiveram silêncio por tantos anos, afastaram-se um do outro, deixaram de conviver, de estreitar ainda mais os laços do afeto.

Tudo por não querer ceder, não dar o primeiro passo, fazer o primeiro gesto, no sentido da reconciliação, de um simples pedido de desculpas.

Por quê? - Perguntava-se ele, aturdido, ante a irmã imóvel, no leito do hospital.

Qual o preço de tão absurdo orgulho? Abrira mão da convivência, do compartilhar a vida com ela, por orgulho.

Afinal, ele sempre esperara que ela, que fizera a promessa, tomasse a iniciativa da reconciliação e voltassem a se falar, a conviver.

Agora, ante a dura lição, ele pôde aquilatar o preço que pagara pelo seu orgulho.

Logo mais descobriria que a irmã não retornaria à consciência.

*   *   *

Tolo orgulho o que carregamos no coração. Repensemos nossas atitudes e, se descobrirmos que alguém aguarda nossas desculpas, caminhemos em sua direção, de imediato, sem aguardar o amanhã.

Sejamos nós a dar o primeiro passo, a estender a mão, a sorrir, a viver bem.


Redação do Momento Espírita.
Em 27.8.2014.


sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Meditação e Espiritismo - Jomar Morais e anotações do blog

Entrevista com Jomar Morais – Jornalista – Programa Caminhos de Luz.

Não há incompatibilidade entre Meditação e espiritismo.

Meditação: É uma técnica de aquietação e centramento da mente. Pode ser aplicada em todas     as situações da vida. A prática da meditação permite aprofundar a vivência da religião e da filosofia de vida, escolhidas. Trás clareza de visão, centramento, equilíbrio psicológico emocional e equilíbrio espiritual.

No tempo de Alan Kardec a meditação era praticada em mosteiros e não aparece na codificação.

As questões 913 a 919 do Livro dos Espíritos trazem esclarecimentos a respeito do egoísmo, o vício raiz do dia a dia - Esclarecimentos de Fénelon e Santo Agostinho.

O que é necessário para que superemos a questão do egoísmo?

Trazendo um ensinamento que Sócrates aprendeu no Oráculo (onde as pessoas iam buscar saber o futuro), Templo de Apolo em Delfos – “Homem conhece-te a ti mesmo” – Autoconhecimento.
Santo Agostinho propõe uma prática que podemos dizer ser a prática da meditação.

“No final do dia fazer um exame de consciência, observar todos os atos do dia”.

Meditação formal – Hoje que vem dos sábios do passado. Tentamos observar o “Aqui e agora” – Centramento da mente – Autoconhecimento.

Meditação: Prática de controle mental. Aquietação mental e centramento mental.

Nossa mente é irrequieta por natureza e produz constantemente macaquinhos que nos puxam para o presente ou para o passado.

Quanto se tem excesso de pensamentos de passado – Angústia, tristeza.

Quanto se tem excesso de pensamentos de futuro – Ansiedade – Projeção.

Nossos pensamentos nos puxam para o passado ou para o futuro e não nos deixam ficar no presente.

A mente foge do presente. E o presente é aquilo que é – A VIDA.

Não se pode realizar nada se estivermos no passado o no futuro e a VIDA REAL é o “AQUI E AGORA”.

A prática da meditação visa fazer com que a mente não se distraia com os macaquinhos que puxam nossos pensamentos para o passado ou para o futuro – Centra no presente. Esteja integralmente onde você está.

Faça integralmente aquilo que está fazendo, com atenção plena e com a mente alerta. Num estado de mente alerta e atenção plena não existe ansiedade e nem angústia – “EXISTE SERENIDADE”.

A meditação é uma técnica que visa alcançar esta meta – A qualidade de vida melhora consideravelmente por que você está em equilíbrio, em perfeito equilíbrio e tem condições de observar sem julgar.

O que torna a prática da meditação mais difícil para os adultos são os nossos hábitos e condicionamentos. A prática da meditação leva a nos descondicionarmos.

O objetivo final da meditação é ficar com a mente alerta 24 horas por dia.

Deixar pleno – Vivendo o aqui e agora, vivendo a plenitude da vida, com perfeita clareza, com perfeita consciência, com possibilidade de observação, de não ser distraído por pensamentos que nos leva para o passado e para o futuro que nos levam constantemente a julgar, a rotular e ficar etiquetando os eventos. Isso faz com que não fiquemos abertos para o movimento da vida, para o novo.

Estamos sempre presos aos conhecimentos e às fixações que ajudam a mente a ficar nesse movimento repetitivo. A Meditação rompe com tudo isso.

Meditação é simples e vai nos trazer a simplicidade e naturalidade da vida, aquela que temos ao nascer.

Respiração - A aculturação e a educação nos torna contidos. A respiração que era abundante e natural passa a ser estrita. Passamos a respirar somente do diafragma para cima. Tensões, estresse do dia a dia faz com que aprisionemos a respiração. A prática da meditação vai romper com tudo isso. Leva de volta no tocante à respiração àquela naturalidade e simplicidade e estarmos perfeitamente prontos para observar a vida.

A Meditação faz parte da tradição cristã.

A meditação surgiu com os eremitas orientais. Dentro da cultura Védica (*), muitas pessoas se dirigiam às florestas e ficavam ali em estado de aquietamento da mente, concentradas até surgir os “insights” – Iluminação.

Outras culturas – Judaica – Jesus passou 40 dias e 40 noites meditando e orando no monte.

Meditar é silenciar. É fazer o caminho interno. É impossível encontrar a paz, felicidade e equilíbrio fora de si. O que buscamos está dentro de nós. O caminho da iluminação é o caminho interno. Na verdade já estamos no lugar que queremos estar. Não conseguimos ver devido ao transtorno natural da mente. A meditação vai fazer com que consigamos ficar nesse ponto onde já estamos. Ganhamos consciência, clareza de visão no ponto onde já estamos.

A meditação é compatível e necessária ma vida atual de desconexão espiritual.

As pessoas estão escravizadas ao tempo, aos compromissos, ao ter, à acumulação – nada disso resolve nossa questão existencial.

Após adquirir tudo o que se queria, somos lançados ao vazio existencial. O que necessitamos está dentro de nós.

A solução existencial, espiritual, está dentro de nós.

A meditação quebra esses condicionamentos, essas fixações.

Benefícios da meditação

Todos os estudos efetuados por 60 anos atestam efeitos positivos sobre a vida psicológica e sobre o corpo do indivíduo.

Meditação é exatamente você tirar de você mesmo a expectativa. Ficar no presente. Não é avaliação.

Notório e comprovado que a meditação equilibra o corpo e a mente:

 - Regula a produção de adrenalina e cortisol.

- Elimina os focos de medo e tensão.

- Estimula a produção no cérebro de neurotransmissores como a serotonina – substância essencial para o equilíbrio emocional. Regula o sono e nos deixa alerta.

- Estimula a produção de endorfinas que nos trazem sensação agradável, leveza, anestésica (doenças dolorosas).

*.*.*

Centro de estudos que onde se estuda os pontos comuns das diferentes tradições religiosas – Deus, Impermanência do ser, Permanência da vida, Amor, Justiça, etc.

Melhor ponto de apoio da meditação é a respiração.

Anotações do blog:

(*) – Vedas

Escrituras sagradas ligadas à religião hindu.

Espinha dorsal de toda a cultura hindu, também chamada de tradição védica.

É a visão que permeia todos os braços do conhecimento e as práticas religiosas da Índia, que devido a sua ancestralidade influenciaram muitas das outras culturas presentes hoje.

Os Vedas através de seus versos, que são chamados de mantras, estão por detrás de muitas práticas religiosas e espirituais.

Há cerca de 3.500 anos, as comunidades da região do vale do Indo, atual norte da Índia, começaram a organizar um dos sistemas religiosos mais antigos de que temos notícia: o Hinduísmo. Suas crenças foram transmitidas oralmente de geração em geração por muitos séculos até serem transcritas nos Vedas, compilação de hinos e preces considerada como o primeiro livro sagrado da história.

Os historiadores estimam que os quatro (4) Vedas – Rigveda, Yajurveda, Samaveda e Atharvaveda – teriam sedo compilados entre 1.500 a 900 a.C. e que a primeira versão em papel seja do século 2 a.C.

Por envolverem intrincados rituais que não são mais seguidos e essas quatro escrituras não são úteis atualmente.

O que nos trás o Budismo?

No livro “Budismo – Claro e Simples, como estar sempre atento neste exato momento, todos os dias” de autoria de Steve Hagen encontramos algumas afirmações bastante esclarecedoras a respeito de como devemos observar a realidade.

“Passamos pelo mundo numa trilha estreita, preocupados com coisas insignificantes que vemos e ouvimos, remoendo nossos preconceitos, passando pelas alegrias da vida sem sequer saber que perdemos algo. Nunca por um momento provamos do vinho estonteante da liberdade. Estamos verdadeiramente presos, como se estivéssemos no fundo de um calabouço, atados a cadeias.” – Yang Chu, filósofo chinês, século IV a.C..

Há um modo de ir além dessa ignorância, pessimismo e confusão, e ter a experiência da Realidade como um Todo – em vez de compreendê-la. Essa experiência não está baseada em nenhuma concepção ou crença; é a própria percepção direta. É ver antes que os sinais apareçam, as ideias surjam, antes que se caia no pensamento.

“O ponto central do Budismo é apenas ver. Isso é tudo.”

O que propõe o Buda-Dharma – Doutrina dos Despertos?

As quatro verdades:

1ª – A vida humana é caracterizada pela insatisfação. É imperativo reconhecer que nossa insatisfação se origina em nós. Ela está bem aqui conosco. Ela surge de nossa própria ignorância, de nossa cegueira quanto a qual é a nossa situação de fato, de nosso desejo de que a Realidade seja algo que ela não é. O Buda-dharma baseia-se na Realidade. Ele não é fantasia, nem pensamento veleitário, nem uma negação do que a vida humana é.

2ª – A insatisfação nasce em nós.

3ª – Podemos compreender a origem de nossa insatisfação, e podemos, assim, pôr um ponto final às suas formas mais profundas e existenciais.

4ª – O Buda-dharma nos oferece um meio de ter justamente a experiência dessa compreensão, chamada, às vezes de nirvana ou iluminação, ou simplesmente a liberdade da mente.

No Budismo a jornada é para o que está aqui e agora, despertar para o aqui e agora, para estarmos totalmente vivos, estar de todo presente. E como fazemos isso?

Para se ter a resposta temos que compreender três coisas. Em primeiro lugar, devemos compreender verdadeiramente que a vida é passageira – Impermanência do Ser. Em seguida, devemos entender que já somos completos, dignos e íntegros. Finalmente, devemos ver que somos nosso próprio refúgio, santuário e salvação.

Voltando ao nosso assunto, o aspecto final do caminho óctuplo é a meditação correta ou concentração correta. A meditação correta reúne a mente para que ela se volte para um foco, concentrada e alerta.
Meditação correta é simplesmente continuar com a nossa experiência imediata a cada momento: Na meditação que se faz sentado, o foco da nossa atividade envolve o mínimo possível – apenas o corpo, a mente e a respiração.

“Para a meditação, é adequado um quarto silencioso. Coma e beba moderadamente. Deixe de lado todos os envolvimentos e interrompa todos os afazeres. Não julgue o bom ou mo mau. Não pronuncie prós ou contras. Interrompa todos os movimentos da mente consciente, a avaliação de todos os pensamentos e visões. Não faça planos de se tornar um Buda. A meditação nãotem nenhuma relação com sentar-se ou deitar-se. No local em que você se senta regularmente, espalhe colchonetes e coloque uma almofada em cima. Sente-se de pernas cruzadas, com os joelhos apoiados diretamente sobre o colchonete. Você deve afrouxar suas roupas e cinto, deixando-os em condição adequada. Em seguida, coloque a mão direita sobre sua perna esquerda e deixe a palma da mão esquerda voltada para cima e sobre a palma da mão direita, com as pontas dos polegares se tocando. Assim, sente-se verticalmente numa postura corporal correta, não inclinando nem para a esquerda nem para a direita, nem para a frente nem para trás. Certifique-se de que suas orelhas estejam alinhadas com o seus ombros e de que seu nariz esteja na mesma direção do seu umbigo. Coloque a língua na parte frontal do céu da boca, com os dentes e os lábios fechados. Seus olhos devem permanecer sempre abertos, e você deve respirar suavemente pelo nariz. Uma vez ajustada a sua postura, respire fundo, inspire e expire, movimente o corpo para a direita e para a esquerda e sente-se numa posição cômoda e imóvel.”

Note-se que se trata exclusivamente de uma ferramenta para facilitar nossa interiorização e capacidade de ver clara e efetivamente a Realidade.

No Budismo não há o positivismo da moral Cristã, pois Buda viveu 500 anos antes do nascimento de Jesus.



segunda-feira, 8 de setembro de 2014

No culto à prece...

“E, tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos e todos ficaram cheios do Espírito Santo.” (Aos, 4:31.)

Todos lançamos, em torno de nós, forças criativas ou destrutivas. Agradáveis ou desagradáveis ao círculo pessoal em que nos movimentamos.

A árvore alcança-nos com a matéria sutil das próprias emanações.

A aranha respira no centro das próprias teias.

A abelha pode viajar intensivamente, mas não descansa a não ser nos compartimentos da própria colmeia.

Assim também o homem vive no seio das criações mentais a que dá origem.

Nossos pensamentos são paredes em que nos enclausuramos ou asas com que progredimos na ascese.

Como pensa, viverás.

Nossa vida íntima – nosso lugar.

A fim de que não perturbemos as leis do Universo, a Natureza somente nos concede as bênçãos da vida, de conformidade com as nossas concepções.

Recolhe-te e enxergarás o limite de tudo o que te cerca.

Expande-te e encontrarás o infinito de tudo o que existe.

Para que nos elevemos, com todos os elementos de nossa órbita, não conhecemos outro recurso além da oração, que pede luz, amor e verdade.

A prece, traduzindo aspiração ardente de subida espiritual, através do conhecimento e da virtude, é a força que ilumina o ideal e santifica o trabalho.

Narram os Atos que, havendo os apóstolos orado, tremeu o lugar onde se encontravam e ficaram cheios do Espírito Santo: iluminou-se-lhes o anseio de fraternidade, engrandeceram-se-lhes as mentes congregadas em propósitos superiores e a energia santificadora felicitou-lhes o espírito.

Não olvides, pois, que o culto à prece é marcha decisiva. A oração renovar-te-á para a obra do Senhor, dia a dia, sem que tu mesmo possas perceber.


Fonte: Livro Fonte Viva (149) – Chico Xavier / Emmanuel


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Dar sem saber a quem...

Dr. Marcos Araújo, conceituado médico cardiologista de pequena cidade do interior, acabara de receber um transplante de fígado.

Filho único de família abastada fora adotado ainda recém-nascido quando do falecimento de sua mãe devido ao complicado parto a que se submeteu. Os recursos eram escassos e a gestação transcorreu sem o amparo da saúde pública.

Cursou medicina e ainda jovem casou-se com Cláudia e logo perceberam que seriam pais de gêmeos. A alegria tomou conta de seus corações.

A vida transcorria e como de costume, antes do atendimento habitual no consultório, dirigia-se ao Hospital para visita aos pacientes internados, e todas as manhãs aquela jovem senhora o esperava a porta de entrada e lhe oferecia pães feitos em casa.

Marcos acreditava fazer o bem e tinha até uma caderneta junto àquela senhora sorridente e pagava-lhe de 15 em 15 dias pelos pães que levava para casa.

Os anos foram passando e a rotina diária permanecia intocada.

Até então desfrutara de vida confortável junto à esposa e filhos.

Contudo, o mal foi constatado e somente um transplante de fígado afigurou-se inevitável e única solução para o restabelecimento físico do Dr. Marcos.

No Hospital a pesquisa por doadores correu célere e rapidamente encontrou-se doador compatível.

Após breve restabelecimento hospitalar, agora, encontrava-se Marcos junto à sua família em seu lar quando lhe ocorreu conhecer o doador que propiciou seu restabelecimento e por consequência retornar às suas atividades médicas, as quais dedicava verdadeira paixão.

Significava muito para ele e fez questão de receber em sua casa aquele que, num ato de verdadeira humanidade, lhe devolvera a possibilidade e a vontade de viver mais saudável e útil.

Paulo, seu amigo, se encarregou de levar o doador à sua residência na data combinada e levou consigo a ficha contendo todos os dados pertinentes ao caso para exame mais acurado do médico-paciente..

Paulo apresentou Vera, a doadora, que por obra do acaso, tratava-se da mesma senhora de quem Marcos todos os dias adquiria os pães, logo cedo, à porta do Hospital. Abraçaram-se como nunca haviam feito e Marcos ao passar as vistas pela ficha de atendimento quase desmaiou de tamanho susto: “Não é possível? Não pode ser? Ele e Vera haviam nascido na mesma data e no mesmo hospital e o nome da mãe de ambos era exatamente o mesmo”. Acabara de descobrir que possuía uma irmã gêmea!

Tanto tempo se passou e aqueles dois espíritos encarnados, irmãos biológicos, cada um com suas missões específicas, encontravam-se dia a dia sem perceber que Deus oferece a cada um de nós o lugar certo e o momento certo, caso estejamos imbuídos de boa vontade, atender ao chamado pré-estabelecido no plano espiritual.

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Fazer o bem sem saber a quem!


A caridade é o único caminho que liberta o espírito das amarras de si mesmo.



segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Uma pessoa melhor

Aquele espírito sofria muito e há muito tempo. Na ignorância de si mesmo e de sua situação, descrevia o ambiente em que se achava, passando a enumerar os sofrimentos, memoriando as tormentas daquela escravidão dolorosa.

A descrição chocava. Pessoas definhando, apresentavam feridas de tamanhos e tipos diversos trazidas do ambiente físico recém-abortados.

Seres humanos desfigurados, entregues outrora aos mais variados comportamentos delituosos, ardiam em pensamentos desconexos e doentios, clamando por socorro.

A atmosfera psíquica do meio demonstrava o quanto se podem escravizar nossas mentes focadas somente e tão somente em perniciosas fantasias onde bailam a cupidez, a ganância, a ambição e a falta de amor próprio.

Resgatado, aos poucos se acostumava com o novo ambiente onde o som harmonioso e as luzes energizantes tocavam aquela alma perdida nos escombros de sua iniquidade e despertavam, neste momento, um sentimento de gratidão àquela que lhe ofertara suas mãos e o retirara das sombras abrasadoras e tenebrosas.

Novo mundo lhe descortinava e ao abrir os olhos verificou e experimentou o fluxo vibratório carregado de amor e fraternidade que lhe abraçava e o continha em concha fluídica protetora.

Jesus, o Mestre dos Mestres, mais uma vez, oportunizou a prática da caridade e nos sentimos felizes em compartilhar com aqueles que ainda distantes da Luz, padecem da falta de fé e esperança, da admirável possibilidade de vencermos a inércia e o comodismo do nosso espírito fortalecendo os laços que nos ligam ao Criador.

Na oportunidade, intuitivamente, ofereci ao consulente desencarnado uma rosa branca fluídica, idealizada por força do pensamento, a qual indiquei que abrigasse em seu coração. “Vou carregar para sempre em meu coração até o final de minha existência”, respondeu o recém-restabelecido entre lágrimas e agradecimentos.

Estabelecido foi, um novo recomeço.

Podemos nos tornar pessoas muito melhores oferecendo com simplicidade o que de mais precioso detemos em nossos corações: a possibilidade de elevar os caídos e infelizes utilizando com autodeterminação e sem recompensas o poder da sugestão do amor e da compreensão.