A Umbanda é uma religião
sincrética, pois fundiu quatro culturas religiosas e criou uma quinta, já com
feições próprias, pois não é culto de nação; não é espiritismo; não é
pajelança; e não é cristianismo, mas, é Umbanda, a religião brasileira por
excelência, e é um reflexo da religiosidade desta nação onde os opostos e as
paralelas não só se tocam ou se encontram como também costumam se fundir,
misturar e mesclar, originando novas feições para coisas já tradicionais.
Senão, vejamos:
- A cultura religiosa nativa (indígena) praticamente desapareceu, restando só uns poucos redutos do antigo culto natural aqui existente antes da expansão colonial.
- A cultura religiosa africana, semelhante em alguns aspectos à dos nativos brasileiros, aqui se adaptou tão bem que índios e negros (ambos, escravos do branco colonizador) se entenderam religiosamente, já que ambos associavam suas divindades a fenômenos da natureza. Ou não é verdade que “Tupã” é muito semelhante a “Xangô”, orixá dos raios, e “Yansã”, orixá das tempestades? Tupã era associado aos trovões e aos raios que devastavam as árvores que atingiam e causavam incêndios.
- A cultura religiosa cristã de então, sustentadora em boa parte da crença em santos poderosos, forneceu a chave para o sincretismo entre as divindades nativas e africanas e os santos católicos. Fato este que até facilitou a catequização dos índios, pois os catequizadores, astutamente, lhes diziam que Deus era Tupã e com isso batizavam e convertiam um povo desprovido de uma doutrina religiosa e de uma teologia pensada em termos expansionistas. E o mesmo se aplica aos negros escravizados e separados de suas raízes religiosas do outro lado do Atlântico.
- Quanto ao espiritismo Kardecista, este forneceu a chave que explicou cientificamente tanto a religião nativa quanto os cultos de nação ou afro-brasileiros, pois explicou a possessão religiosa como incorporação dos espíritos em pessoas dotadas com esta faculdade mediúnica.
Nada é por acaso, e aqui vemos
claramente a sapiência divina dos arquitetos das religiões, porque elementos
religiosos não conflitantes foram sendo reunidos pacientemente, e pouco a pouco
os pontos em comum foram servindo de elo entre povos, culturas e religiões
distintas.
A Umbanda é esta religião pensada
pelos arquitetos e pensadores divinos das religiões, pois é espírita (seus
médiuns incorporam os espíritos); é cristã (os santos católicos e o Cristo
Jesus ornam seus altares); é culto africano (cultuam-se os orixás e os
reverenciam em seus santuários naturais); é pajelança (pois os velhos pajés
incorporam e dançam suas danças sagradas durante as sessões de trabalho).
Fonte – Umbanda Sagrada – Religião, Ciência, Magia e Mistério
– Rubens Saraceni.
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