terça-feira, 30 de outubro de 2012

Sentir-se bem...

Sob a ótica Budista.

Os ensinamentos do “Buda Dharma” – Doutrina dos Despertos nos trazem que o ponto central do Budismo é apenas ver. Isso é tudo.

Devemos ver as coisas como são, em lugar de vê-las como esperamos e queremos que elas sejam.

A maioria de nós sente que algo está faltando em nossas vidas; mas não temos a menor ideia sobre qual é realmente o nosso problema, nem sobre o que deveríamos fazer quanto a ele.

Ansiamos por algo. Sentimos a dor e a perda. Sofremos. Tudo o que precisamos para aliviar esse descontentamento está aqui mesmo diante de nós. No entanto, não percebemos isso.

Achamos que temos que lidar com os nossos problemas de modo a eliminá-los, ou distorcendo e negando-lhes a realidade. Mas, ao fazer isso, tentamos tornar a Realidade em algo que ela não é. Tentamos rearranjar e manipular o mundo para que os cães nunca ladrem os acidentes nunca aconteçam e as pessoas por quem zelamos nunca morram. Mesmo superficialmente, a inutilidade desses esforços é óbvia.

O “Buda Dharma” baseia-se na Realidade. Ele não é fantasia, nem pensamento veleitário, nem uma negação do que a vida humana é. Não há nenhuma tentativa de encobrir, de atenuar, de reintegrar os fatos.

A vida humana é caracterizada pela insatisfação. Ela está aqui conosco. Essa é a primeira verdade da vida humana proposta pelo “Buda Dharma”.

A segunda verdade do Buda Dharma é de que essa insatisfação nasce em nós.

A terceira é que podemos compreender a origem da nossa insatisfação, e podemos, assim, pôr um ponto final às suas formas mais profundas e existenciais.

A quarta verdade é aquela que nos oferece um meio de ter justamente a experiência dessa compreensão. Esta às vezes é chamada de nirvana ou iluminação – ou simplesmente liberdade da mente.

O “Buda Dharma” coloca à mesa muitas ferramentas de que dispomos para enfrentar as adversidades.

1. Continue a caminhar. Você está totalmente preparado para qualquer coisa que possa acontecer. Cada um de nós tem a capacidade de ser simplesmente o que é sem nada que se nos acrescente. Nada falta. Você tem apoio e é amparado, bem agora, mesmo que ainda não compreenda isso, ou não compreenda como.

2. Confie em si mesmo. Que cada um de nós seja uma luz para si mesmo; que ninguém recorra a um refúgio exterior. Que nós nos apeguemos à Verdade. Não busquemos refúgio em ninguém ao nosso lado.

3. Fique de bem com a vida. A vida é passageira. Somos completos, dignos e íntegros. Devemos ver que somos o nosso próprio refúgio, o nosso próprio santuário e a nossa própria salvação. Devemos pôr fim à intranquilidade do espírito. Tudo o que precisamos fazer é ver que de fato não existe nada “lá fora” a se conseguir porque, já, neste momento, tudo está completo. Ao fazermos isso, podemos despertar da confusão eterna, da angústia existencial, da pergunta não respondida sobre o sentido da vida.

4. Observe os seus pensamentos. A quarta verdade do Buda-Dharma, também conhecida como caminho óctuplo, nos oferece uma compreensão e uma prática para realizarmos a cessação de “Duhkha” ¹. O segundo aspecto do Caminho é a intenção correta. Às vezes ela também é chamada de resolução correta, motivo correto ou pensamento correto. Você não pode aprender a Verdade com ninguém. Ela só é vista por meio da sua própria resolução.

5. Use o seu poder. Nós somos a autoridade final. Nenhuma comunidade de filósofos, cientistas, padres, acadêmicos, políticos, nenhuma escola, legislatura, parlamento, nem corte – podem ser responsáveis por nossa vida, pelas nossas palavras ou ações. A autoridade é nossa e somente nossa. Nós não podemos nos livrar dela nem escapar a ela.

6. Aprenda a amar-se. Você está exatamente onde precisa estar. A primeira verdade da existência é que causamos a dor a nós mesmos. Ela sai do nosso próprio coração, da nossa mente, da nossa própria confusão. Examinando a natureza de nossos problemas, o que eles são e de onde vêm, estaremos, talvez, nos libertando deles.  

7. Não queira demasiado. O modo de vida correto, o quinto aspecto do caminho óctuplo, envolve ganhar a vida de um modo que não cause dano a si próprio nem aos outros. É aconselhável examinar a nossa vida, o nosso comportamento, a nossa fala e os meios pelos quais nos sustentamos neste planeta, e ao modo como todas essas atividades se ligam a tudo mais.

8. Não alimente a raiva. “A fala mansa nem sempre é mansa”. Em geral, é claro, uma palavra gentil ou elogio leva com mais facilidade à serenidade, à boa vontade e à vigilância. Antes de falarmos, devemos examinar a própria mente e os seus motivos. Se estivermos tentando derrubar alguém, ou se estamos prestes a falar com malícia ou rancor, então que não se diga nada. Falar com a consciência do que observamos – no coração, mente e situação – fará com que as palavras sejam adequadas e no tom correto e estaremos falando e ouvindo com sabedoria e compaixão.

9. Reconhecer que a mudança faz parte da vida. Tudo na nossa experiência – nosso corpo, nossa mente, nossos pensamentos, nossos desejos e necessidades, nossos relacionamentos – são efêmeros. Mutáveis. Sujeitos à morte. Morremos a cada momento e novamente, a cada momento, nascemos. O processo do nascimento e da morte prossegue indefinidamente, momento após momento, bem diante de nossos olhos. Tudo para o que olhamos, incluindo nós mesmos e cada aspecto de nossa vida, é apenas mudança. A vitalidade consiste nesse nascimento e morte. Essa impermanência; essa constante ascensão e queda são o que torna a nossa vida vibrante, maravilhosa e cheia de ânimo.

10. Lide com os seus medos. Nosso maior medo é o de que cada um de nós – “eu” – algum dia se vá da existência. Mas como pode algo que não tinha existência concreta deixar de existir? Buda disse: Assim como um homem estremece de horror quando pisa numa serpente, mas ri quando olha para o chão e vê que se trata apenas de uma corda, assim também eu descobri um dia que o que eu chamava de “Eu” não podia ser encontrado, e todo medo e angústia passaram com o meu engano.

Os bons tempos vêm e se vão. E os maus tempos também. No entanto, despendemos grande parte do nosso tempo e energia tentando trazer os bons tempos de volta. Não conseguimos perceber que os bons tempos chegam por si mesmos. Da mesma forma, os tempos ruins chegam, mesmo que gastemos muito tempo e energia tentando conservá-los à distância.

Não queremos passar por maus momentos, é claro. Mas eles estão fora do nosso controle, bem como os bons momentos. Os que não queremos virão e passarão independentemente do que fizermos para controlar a situação. Com os bons tempos se dará o mesmo. Assim, além de viver simplesmente cada momento de maneira total, compreenderemos que esse controle é impossível, um castelo no ar.

Faremos bem em não nos apegar a consequências particulares. O melhor que temos a fazer é concentrar o nosso esforço em estar presente em vez de insistir no que o futuro deve ser.


  1. Duhkha – Palavra sanscrítica que se refere a uma roda em más condições. A primeira verdade do Buda-Dharma compara a vida humana a essa roda em más condições. Algo básico e importante não está no seu lugar. Isso nos aborrece, nos deixa infelizes, várias vezes. A cada giro da roda, a cada dia que passa, conhecemos a dor.
  2. Fonte: Budismo Claro e Simples – Steve Hagen.



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