“O dever começa precisamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do vosso próximo; termina no limite que não gostaríeis de ver ultrapassado em relação a vós mesmos.” (Cap. XVII, item 7 - ESE).
Como decifrar o dever? De que maneira
observar o dever íntimo impresso na consciência, diante de tantos deveres
sociais, profissionais e afetivos que muitas vezes nos impõem caminhos
divergentes? (Demanda reflexão e amadurecimento)
Efetivamente, nasceste e cresceste
apenas para seres único no mundo. Em toda parte não existe ninguém igual a tua
maneira de ser, portanto não podes perder de vista essa verdade, para
encontrares o dever que te compete perante a vida.
Teu primordial compromisso é contigo
mesmo, e tua tarefa mais importante na Terra, para a qual estás unicamente
preparado, é desenvolver tua individualidade no transcorrer de tua longa
jornada evolutiva.
Preocupar-te com os deveres alheios é
distrair-te de tuas próprias responsabilidades, pois não concretizas teus
ideais nem deixais que os outros cumpram suas obrigações (compromissos, encargos, incumbências) pessoais. Não nos
referimos aqui à ajuda real que é sempre importante, mas sim à intromissão nas
competências (aptidões, capacidades, habilidades,
perícias, dons, destrezas) dos outros, impedindo que as criaturas
adquiram autonomia e vida própria.
Assumir deveres (obrigações) dos outros é sabotar os
relacionamentos que poderiam ser prósperos e duradouros. Por não compreenderes
bem o teu interior, é que te comparas aos outros, esquecendo que nenhum de nós
está predestinado a receber, ao mesmo tempo, os mesmos ensinamentos e fazer as
mesmas coisas, pois existem inúmeras formas de viver e evoluir. Lembra-te de
que deverias importar-te somente com a tua maneira de ser.
Não podemos nos esquecer de que aquele
que se compara acaba se sentido elevado ou rebaixado. Nunca se dá o devido
valor e nunca percebe corretamente como se é.
Teus empenhos (esforços, interesses) íntimos (particulares) deverão ser
voltados unicamente para a tua pessoa, e nunca deverás acomodar pontos de vista
diversos, porque, além de te perderes, não ajustarás os limites onde começa a
ameaça à tua felicidade, ou à felicidade do teu próximo. (O que tenho dentro de mim, meu cerne, minha
individualidade, foi construído de forma particular e íntima em múltiplas
encarnações, agregando valores muito particulares ao meu espírito, e a cada nova
encarnação me serve de guia para novas experimentações e aquisições).
Muitos acreditam que seus deveres são
de corrigenda e repressão às atitudes alheias, vivem em constantes flutuações
existenciais por não saberem esperar o fluxo de a vida agir naturalmente,
asseverando sempre que suas obrigações são em “nome da salvação” e, desta
forma, controlam e forçam as coisas a acontecerem quando e como querem.
Dizem: - “Fazemos isso porque só
estamos tentando ajudar”. Forçam eventos, escrevem roteiros, fazem o que for
necessário para garantir que os atores e as cenas tenham o desempenho e o
desenlace que determinaram e acreditam, insistentemente, que seu dever é salvar
almas, não percebendo que só podem salvar realmente a si mesmos.
Nosso dever é redescobrir o que é
verdadeiro para nós. Não é esconder nossos sentimentos de qualquer pessoa ou de
nós mesmos, mas sim ter a liberdade e segurança em nossas relações pessoais,
para decidirmos seguir na direção que nós mesmos escolhermos. Não “devemos” ser
o que nossos pais ou a sociedade querem nos impor ou definir como melhor.
Precisamos compreender que nossos objetivos e finalidade de vida têm valor
unicamente para nós; os dos outros, particularmente para eles. (Neste caso,
creio que o autor esteja se referindo aos adultos e não às crianças que,
evidentemente, necessitam de auxílio e direção).
Obrigação pode ser conceituada como
sendo o que deveríamos fazer para agradar as pessoas, ou para nos enquadrar no
que elas esperam de nós, entretanto, o dever é um processo de auscultar (procurar saber, inquirir;
investigar) a nós mesmos,
descortinando nossa estrada interior, para logo após, materializá-la num
processo lento e constante.
Ao decifrar (entender, decodificar, desenredar, desembaralhar,
desembaraçar) nosso real dever, uma sensação de autorrealização toma
conta de nossa atmosfera espiritual, e passamos a apreciar os verdadeiros e fundamentais
valores da vida, associados a um prazer inexplicável. (Neste ponto, estaremos assumindo nosso verdadeiro eu
íntimo, o eu individual).
Lembremo-nos da afirmação do espírito
Lázaro em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”: “O dever é a obrigação moral,
diante de si mesmo primeiro, e dos outros em seguida”.
Em resumo, penso que tenho a obrigação de estancar minhas
vontades de dominação do outro e deixá-lo buscar seus próprios caminhos. Não
posso constranger as iniciativas do outro e, devo se for o caso, observar seu
desenvolvimento intelectual, moral, conceitual e espiritual, sem, no entanto,
colocando diretrizes infundadas e sem cabimento. Notoriamente somos
especialistas em carimbar o outro com as nossas percepções da vida e da
realidade.
Não há o certo e o errado. O que há são nossas
características próprias guiando nossas atitudes, pensamentos e obras, assim
como não há pecado e sim comportamentos inadequados à espera de nosso
amadurecimento para repará-los dentro das perspectivas de nosso desenvolvimento
espiritual na atualidade.
Eu acredito que os bons exemplos ainda são a melhor forma
de demonstrar os reais valores que devem nortear nossas vidas. E é interessante
notar que, aqueles que estão em um nível de desenvolvimento espiritual à altura
do observado, se harmonizam vibratóriamente com ele e, sem o perceberem,
auferem novos conceitos, ideias e juízos.
Observações do autor do estudo em Segoe Print
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