quarta-feira, 22 de junho de 2016

Crônica - "Sorria! Você está sendo filmado."


Está rindo do quê?

Cansei de ser artista e nem tenho intenção para tal feito. Atentos olhos me espreitam, uns sorrateiros outros oportunistas. Apinhocados em cantos estreitos na sutileza, disfarçados e mal-intencionados. As soleiras não mentem...

Diz-se que "Folhas não caem sem que Deus Saiba"!

Que será desta humanidade? Ou perde a vergonha ou endireita! Passos e mais passos cuidadosamente pensados e imaginados. Nada despercebido.

Sou o que os olhos me acham...

Sou o que a imaginação constrói...

Sou o que os pensamentos floreiam...

Divina invenção ou coisa do abestado?

De meu lado também vejo, imagino e penso: quem me observa? Estará atento ou sou mais um perdido nessa multidão de pés, braços e pernas?

A ética do homem nasce da própria desconfiança.

Sou, quem não é?

Caridade, usura, pecado, recado, amontoado...?

Extensão da curiosidade ou precaução?

Nem tudo que se vê é real e nem tudo que é real se vê. Por detrás de olhos tristes, alegria. Por detrás dos defeitos, grandes feitos. Por detrás das fantasias, grandes verdades.

Entro no jogo e também me arrisco a olhar através dos olhos mecânicos e eletrônicos, anencéfalos de nascimento. Me despiram diante da humanidade. Rasgaram, destroçaram e deturparam meu corpo. Desnudaram meu espírito... Nada ficou somente para mim. Sou um agregado de formas e pensamentos alheios.

"Kolynos ou Colgate"? "Espresso ou Cappuccino"? "Preto ou Marrom"? Estou ficando paranoico e até consultando os amigos dos olhos virtuais do lado de lá para comer, tomar, comprar e vestir!

Possível é, e graças a Deus pelo menos uma dessas geringonças está fora de combate e já me sinto mais aliviado podendo exercer meu direito de humano. Por enquanto...

Mas afinal quem sou eu? Um ego desfigurado ou uma essência vilipendiada?





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