Grande
e poderoso homem habitava mansão pouco acima da elevação natural do lugar.
Aquele
rio de largura considerável, porém raso, fundo pedregoso e águas ainda límpidas
indicava parte da divisa da grande propriedade.
Considerado
muito rígido e de postura enérgica, de pouca conversa e muito trabalho, vida
simples e honesta, envelhecido prematuramente, apresentava acima de tudo uma
educação refinada.
Belíssima
paisagem dominava a propriedade onde carvalhos antigos e pinheiros libaneses
emprestavam sentimentos bucólicos e solitários aos que lá conviviam.
Vezes
sem fim, via-se sentado a beira daquele curso d’água a meditar e refletir.
Intrigava-o
barquinhos de papel, dia ou outro, a correnteza levar. Pensava talvez alguma
criança a se divertir.
Corria
a vida entre compromissos junto aos negócios públicos, eventos e festas.
Certa
vez, ocorreu-lhe verificar quem estaria a colocar os barquinhos na correnteza
do rio há tanto tempo. Espantou-se de tal curiosidade infantil.
Chegou
junto ao barranco e por detrás de espessa vegetação florida observou seu mais
humilde trabalhador acompanhando atento o “barquinho” desaparecer na curva
daquele manso curso de águas pouco turbulentas.
Assim
fez por mais algum tempo sem interromper seu criado.
Os
primeiros eram maiores, grosseiros e pouco elaborados, porém agora, pequenos e
bem construídos.
Orlando
que fazes? Com olhos assustados quase perdeu o equilíbrio de si mesmo.
Acompanho-te
há algum tempo lançar teus brinquedos. Algum motivo especial?
“Para
cada equívoco meu senhor, venho até esta corrente de água para, através destes
barquinhos, levá-los para sempre e nunca mais repeti-los. Veja que, como deve
ter observado, no início eram grandes, porque grandes eram meus erros. Agora,
no entanto, digo que já posso me desfazer dos pequenos”.
Na
manhã seguinte, às primeiras horas, deslizava correnteza a fora, entre a névoa vespertina,
uma embarcação robusta, diferente de todas as outras...
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