sábado, 2 de maio de 2015

Oportunidade...

Grande e poderoso homem habitava mansão pouco acima da elevação natural do lugar.

Aquele rio de largura considerável, porém raso, fundo pedregoso e águas ainda límpidas indicava parte da divisa da grande propriedade.

Considerado muito rígido e de postura enérgica, de pouca conversa e muito trabalho, vida simples e honesta, envelhecido prematuramente, apresentava acima de tudo uma educação refinada.

Belíssima paisagem dominava a propriedade onde carvalhos antigos e pinheiros libaneses emprestavam sentimentos bucólicos e solitários aos que lá conviviam.

Vezes sem fim, via-se sentado a beira daquele curso d’água a meditar e refletir.

Intrigava-o barquinhos de papel, dia ou outro, a correnteza levar. Pensava talvez alguma criança a se divertir.

Corria a vida entre compromissos junto aos negócios públicos, eventos e festas.

Certa vez, ocorreu-lhe verificar quem estaria a colocar os barquinhos na correnteza do rio há tanto tempo. Espantou-se de tal curiosidade infantil.

Chegou junto ao barranco e por detrás de espessa vegetação florida observou seu mais humilde trabalhador acompanhando atento o “barquinho” desaparecer na curva daquele manso curso de águas pouco turbulentas.

Assim fez por mais algum tempo sem interromper seu criado.
Os primeiros eram maiores, grosseiros e pouco elaborados, porém agora, pequenos e bem construídos.

Orlando que fazes? Com olhos assustados quase perdeu o equilíbrio de si mesmo.

Acompanho-te há algum tempo lançar teus brinquedos. Algum motivo especial?

“Para cada equívoco meu senhor, venho até esta corrente de água para, através destes barquinhos, levá-los para sempre e nunca mais repeti-los. Veja que, como deve ter observado, no início eram grandes, porque grandes eram meus erros. Agora, no entanto, digo que já posso me desfazer dos pequenos”.

Na manhã seguinte, às primeiras horas, deslizava correnteza a fora, entre a névoa vespertina, uma embarcação robusta, diferente de todas as outras...





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