domingo, 1 de setembro de 2013

O Valioso Tempo dos Maduros...


Contei meus anos e descobri
que terei menos tempo
para viver daqui para a frente
do que já vivi até agora.
Tenho muito mais
passado do que futuro.

Sinto-me como aquele
menino que recebeu uma
bacia de cerejas.

As primeiras,
ele chupou displicente,
mas percebendo que
faltam poucas,
rói o caroço.
Já não tenho tempo
para lidar
com mediocridades.

Não quero estar em
reuniões onde desfilam
egos inflamados.

Inquieto-me com invejosos
tentando destruir quem
eles admiram,
cobiçando seus lugares,
talentos e sorte.

Já não tenho tempo
para conversas intermináveis,
para discutir assuntos
inúteis sobre vidas alheias
que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo
para administrar
melindres de pessoas,
que apesar
da idade cronológica,
são imaturos.

Detesto fazer acareação
de desafetos que
brigaram pelo majestoso
cargo de
secretário-geral do coral.

'As pessoas não
debatem conteúdos,
apenas os rótulos'.

Meu tempo tornou-se
escasso para debater rótulos,
quero a essência,
minha alma tem pressa...

Sem muitas cerejas na bacia,
quero viver ao
lado de gente humana,
muito humana;
que sabe rir de seus tropeços,
não se encanta com triunfos,
não se considera
eleita antes da hora,
não foge de sua mortalidade,
caminhar perto de coisas e
pessoas de verdade,
o essencial faz a vida
valer a pena.

E para mim,
basta o essencial!

TEXTO DE: Mário de Andrade





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