sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Alabê de Jerusalém - Os intolerantes - Altay Veloso



“Já que você deu licença pra esse Negro falar”...
Não duvida da cabeça que tem coroa ou cocar
Nenhuma auréola resiste ao tempo sem se apagar
Se não tiver a serviço de Deus ou de um Orixá.
Nego velho vem de longe, minha crença tem estrada
Moço exijo respeito a sua voz é malcriada
Não seja tão leviano, respeite minha Aruanda
Tem quase cinco mil anos de existência minha Banda.
E às vezes corações que crêem em Deus, são mais duros que os ateus. 
E jogam pedra sobre as catedrais dos meus deuses Yorubás. 
Não sabem que a nossa terra é uma casa na aldeia, religiões na Terra são archotes que clareiam.
Num canto da casa quem com fervor procura ajuda tem o archote de Buda pra iluminar sua fé,
Lá onde a terra pouco verdeia, pra não se perder na areia, tem que ter lá na candeia a chama de Maomé.
Ah essa nossa terra é uma casa na aldeia, religiões na Terra são archotes que clareiam. (Clareia Zambi clareia...).
Assisto com muita tristeza a pena da aspereza dilacerando a beleza de uma linda sinfonia. A aguarrás de juízes, ciumentos inflexíveis, descolorindo os matizes de uma linda pintura, só porque não gostam da assinatura!
Mas vai como uma bailarina, com a inocência de menina, dançando em volta do sol, a Grande Mãe Terra. Enquanto muitas nações, governos, religiões ensaiam a dança da guerra.
Ah na verdade a bola azul quase nunca foi amada; é sempre penalizada. Tem um trabalho enorme, dedicação e talento para preparar a mistura, juntar os seus elementos para dar forma às criaturas, e elas depois de paridas, desconhecem a matriarca e dizem mal agradecidas: que a carne é fraca.
E quando o planeta gera um Avatár, um iluminado assim como o Nazareno, tem logo quem se apresenta com conhecimento profundo e diz: não é desse mundo, só pode ser extraterreno.
Ah, é difícil entender porque é que o homem, até hoje, cospe no prato que come. Algumas religiões, não sei por qual motivo, dizem que a Terra é um território com vocação pra purgatório, não passa de sanatório... E que nós só seremos felizes longe dela, bem distante, lá onde os delirantes chamam de paraíso.
Olha, eu vou dizer na minha simples observação dia após dia, me perdoem a liberdade, mas religião de verdade mais parecida com a que Jesus queria, talvez seja a ecologia. Pra ela não tem fronteira e só reza um mandamento: preservação das espécies com urgência, sem adiamento.
Hoje, ela pensa nas plantas, nos rios, no mar, nos bichos. Amanhã, com certeza, com a mesma dedicação e capricho, pensará com muito cuidado nos meninos abandonados.

Ah, se ela tivesse mais força para sustentar sua zanga, evitaria com certeza a fome cruel de Ruanda. Ainda era uma menina quando a impertinência sangrou com a bola de fogo a pobre Hiroshima. Mas ela cresce, se instala como uma prece no coração das crianças,tenho muitas esperanças...
Eu tenho toda a certeza que o nosso planeta um dia mesmo cansado, exausto, terá toda a garantia e guardado por uma geração vigia, nunca mais verá a espada fria do Holocausto.
A intolerância eu repito, é a mais triste das doenças, não tem dó, não tem clemência. Deixa tantas cicatrizes nas pessoas, nos países, até as religiões, guardiãs da Luz Celeste, abandonam seus archotes para empunhar cassetete. E o que na verdade refresca o rosto de Deus, é um leque, que tem uma haste de Calvino e outra de Alan Kardec. Na outra haste, a brisa, que vêm das terras de Shiva, é uma dos franciscanos é outra dos beduínos. Não precisa ir muito longe... Jesus nasce entre os rabinos.
É nego velho tá cansado, chegou entusiasmado pra cumprir o prometido,
agora to meio perdido, mas fica por conta da idade, tá me faltando memória, já não falo coisa com coisa, perdi o fio da história, ah me desculpa minha gente, mas Alabê vai embora...
"As águas de Ocanaã banharam o seu corpo
O Ébano de Daomé do meu fez o seu porto
Nas bodas de Canaã o Xangô provou o vinho
O desejo de Iansã me colocou no seu caminho
Seus ancestrais de Ifé e os meus da Palestina
Pediram juntos à Javé, que abrisse as cortinas
Pra que ouvisse seu tambor soando através dos tempos
O meu fio condutor foi teu amor, teu sentimento
Alabê sábia é a Natureza minha face indefesa
Você não pode ver,mas se a intolerância diz
minha nobre blasfema
Ai meu amor serena,quero te ver feliz”.
Ah minha bela Judite amor da minha vida onde estás???
"Por obra de Ocanaã estou nesse momento na mansão de Iansã
sou hóspede dos ventos
Por conta do nosso amor a estrela da Galiléia pos os raios de Xangô nos candelabros da Judéia."
To com os olhos cheios d'água!!!
"Alabê sábia é a Natureza minha face indefesa
Você não pode ver, mas se a intolerância diz
minha nobre blasfema
Ai meu amor serena, quero te ver feliz."
Judite! Meus olhos encheram d'água pra apagar essa chama da intolerância insana que com soberba e com frieza nos homens coloca venda pra que não vejam a beleza
das diferenças entre nós.
"Odoyá Yemanjá... Opará... Mogbá... Eparrêy... Saluba Nanã... Ora yê yê...”.
São os anéis da Oxum, as contas de Yemanjá, a serenidade de Nanã, a valentia de Oyá
Benditas sejam essas moças Deusas da natureza, que tiveram a gentileza de cuidar de Oxalá, uma dando seu ventre essa é a mais sagrada, Vai perpetuar seu nome. Saudação: Ora yê yê ô...Saluba Nanã saluba... Bendito esse seu destino que preparou sua carne pra ser avó do Menino, e essa vida um bom começo é a educação de DEUS.
"Oxalá, Jesus orai por nós, por nós...”.
Olha a voz de Yemanjá sofrendo a dor do exílio, ela que cuidou dos filhos quando abriu o mar vermelho é hoje apenas sereia no reflexo do espelho.
Estala Yansã, e instala sua ventania na escrita da cabala, sua luz é um poema nos olhos de Madalena.
Do olho d'água nasce um rio tão admirável e fecundo,
Não há nenhum paralelo na história do nosso mundo quanto a saga das mulheres que cuidaram de Jesus, Áh... talvez seja por isso que Jerusalém não dorme
ela também é mulher,é mãe,são obrigações enormes,doa vida,ergue a cruz e sofre de febre intensa quem de Deus teve a licença prá conviver com a presença da treva e da luz.
Treva que sempre consome toda doçura dos homens...
A escuridão dá medo...
Semeia desassossego e ela é cruel é voraz,chegou pra roubar a vida,chegou bem as escondidas,bota sua voz suicida nos lábios de Caifaz...."


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