Carlos se dirige a um
Centro de Umbanda aconselhado por um amigo, pois a sua vida está bastante
complicada. Sua mãe vive doente, já tendo ido a diversos médicos sem sucesso na
cura. O seu pai foi demitido da empresa que trabalhava há mais de 25 anos e
vive deprimido e chorando pelos cantos. Ele mesmo desempregado há três anos, vê
o seu filho adoecer sem condições de comprar os medicamentos. A sua esposa,
única ainda empregada, apresenta sérios indícios de fadiga mental e física.
Ao chegar ao centro
lhe informam que é dia de consulta com Preto Velho. O seu amigo Cláudio, vai
explicando a rotina da casa e como ele deve agir e pedir na hora da consulta.
Chega finalmente a sua
vez de se consultar, o seu pensamento está coberto de dúvidas, achando que
estava chegando ao fundo do poço ao se dirigir a um terreiro de “macumba”,
falar com uma pessoa que nunca viu antes na vida e abrir o seu coração, suas
dúvidas e temores.
Num primeiro momento
acha graça da posição do médium todo curvado e do jeito de falar, não consegue
se aquietar, mas o Preto Velho vai aos pouquinhos ministrando alguns passes e
por fim Carlos começa a se abrir.
O Preto Velho a tudo
ouve, manifestando de tempos em tempos palavras encorajadoras para o aflito
Carlos. Carlos não entende o porquê, mas enquanto ele fala, o Preto Velho vai
estalando os dedos em volta dele, olha discretamente para o copo d’água ao lado
da vela, joga para cima a fumaça de seu cachimbo, e assim vai firmando e passando
as informações para os guardiões que pertencem a egrégora da Casa, que através
dos Exus de trabalho partem com a velocidade do pensamento para a casa de Carlos.
Em dado momento, o
Preto Velho que está “preso” ao corpo carnal do médium e conseqüentemente com
sua visão limitada, utiliza alguns elementos magísticos e ritualísticos para
proporcionar alívio ao Carlos.
Diz no final da
consulta que irá trabalhar para ele e toda a sua família, dá algumas
recomendações sobre como rezar e elevar o pensamento a Deus e se despedem.
Carlos tem alguma
sensação de alívio, sente-se mais leve e confiante, mas ao mesmo tempo não
acredita que meia dúzia de estalar de dedos vai “resolver” o seu problema...
Incrédulo, mas não tão fraco retorna a sua casa sem nem imaginar que a batalha
está apenas começando.
O Preto Velho ao ver
Carlos se levantar e ir embora sabe que a essa altura toda a egrégora da Casa
já está se preparando para a batalha, e, apesar de ainda estar preso ao corpo
do médium pelo processo de incorporação, pôde perceber que será grande.
Mas ainda há o que ser
feito em terra... Precisa descarregar o seu aparelho e o terreiro. Terminado o sarava
ele parte indo se unir com os outros membros da egrégora.
Com o término dos
trabalhos, os médiuns começam a ir embora e no Terreiro de Umbanda se faz
silêncio. Mas um silêncio apenas aos ouvidos humanos, pois os sons ali emitidos
estão numa freqüência diferente dos sons conhecidos nessa Terra.
E os médiuns pensam:
“A gira terminou.” Não meus caros, a “gira” está apenas começando. A egrégora
da Casa está reunida dentro do terreiro aguardando o retorno dos Exus de
Trabalhos com as informações reais de cada consulta que foi realizada.
Os Exus vão
retornando, um a um. O Mentor da Casa assiste e faz intervenções quanto às deliberações
do Alto, e os Chefes de Linha estabelecem o famoso “quem vai fazer o que”. Tudo
isso ocorre em ambiente absolutamente harmônico e organizado.
Exus, Caboclos e
Pretos Velhos trocam impressões a respeito dos problemas apresentados e
deliberam.
Mas, voltando ao nosso
amigo Carlos. (Nesse momento vou dar nomes fictícios também as entidades envolvidas
nesse trabalho. Digamos que o Preto Velho que atendeu Carlos chama-se Pai
Benedito e o Exu de Trabalho chamado por ele foi Exu Marabô).
Quando Exu Marabô
retorna com as informações a respeito do que encontrou na casa de Carlos, o
diálogo que se dá é o seguinte:
Marabô: É Pai
Benedito, a situação lá está bem complicada.
Pai Benedito: Eu já
suspeitava. O que você viu?
Marabô: A casa do moço
Carlos foi totalmente absorvida por uma rede de energia que tem seres bem
grotescos mantendo-a firme. Segui buscando a origem dessa rede e me deparei com
uma construção logo acima da casa. Adentrando ao recinto vi uma inteligência
poderosa por trás disso, mas sem nenhuma relação direta com nenhum dos
envolvidos. Buscando entender a “trama” continuei procurando o porque daquilo e
encontrei uma mulher bastante dementada, com um aparelho acoplado em sua nuca e
pude “ler” seus pensamentos e “sentir” seus desejos que eram de vingança para
com o pai carnal do moço Carlos. Vi também que eles ainda não sabem que o moço Carlos
veio aqui no terreiro. Bem, em resumo: A inteligência envolveu essa pobre infeliz
e prometendo-lhe “devolver” o pai do moço Carlos pra ela e suga suas energias
que é retro-alimentada pelo sentimento de culpa que o pai do moço Carlos tem.
Parece que foi uma aventura dele na juventude, só não me preocupei em saber se
desta ou de outra vida, pois achei que os dados que tinha já eram suficientes
para podermos trabalhar.
Pai Benedito: Sim,
sim... Mais do que suficientes! Não estamos aqui para julgar ninguém. Isso cabe
ao Pai. Bem, nesse caso teremos que destruir essa construção, mas precisamos
primeiro recuperar a moça, e já que o pai de Carlos está involuntariamente
retroalimentando a construção, precisaremos de recursos para auxiliar os
familiares também.
Assim, Pai Benedito se
dirige ao Caboclo Flecha Dourada, responsável pela corrente de desobsessão daquele
terreiro e expõe a situação. Imediatamente o Caboclo determina que a Pomba Gira
Figueira irá utilizar os seus elementos magísticos para que a equipe de resgate
da Casa recupere a moça e quem mais tenha condições de tratamento e a “equipe
de força” destrua a construção e todos os equipamentos dentro dela.
Tarefas distribuídas,
eles partem para a construção. Caboclos, Pretos Velhos e Exus guardam certa distância
da construção e observam a Pomba Gira Figueira assumir uma configuração
praticamente transparente. Ao chegar perto da construção percebe-se sair de sua
boca uma espécie de fumaça enegrecida que começa a tomar conta do ambiente.
Logo atrás dela,
homens empurram uma espécie de carrinho, que lembram os carrinhos usados em
minas de escavação de carvão. Conforme a Sra. Figueira vai entrando no ambiente
tomado por essa fumaça negra, os seres que lá estão caem em profundo sono,
sendo resgatados pelos homens e colocados dentro dos carrinhos. A ação dela é
rápida.
Ninguém percebe a sua
presença. Quando todos são resgatados, a Sra. Figueira começa a manipular a
energia dos instrumentos dentro da construção mudando sua forma, plasmando
outras energias e transformando os instrumentos em bombas autodestrutivas. Finalmente
sai da construção e os Exus que compõe a “tropa de choque” ou “equipe de força”
passam a detonar a bomba e a destruir a construção e a malha que envolve a construção
material na Terra e a prender os seres grotescos que dão sustentação a malha no
ponto da construção material.
Caboclos e Pretos
Velhos começam a tratar ali mesmo as inteligências retiradas da construção,
colocando-os em macas e direcionando aos locais adequados aos tratamentos que
irão receber, sob os olhos atentos dos Exus Guardiões, Amparadores e de
Trabalho.
Outros partem para a
construção material e começam o trabalho individualizado entre os membros da família.
Exus fazem o trabalho de limpeza e descarga, resgatando os “perdidos”, para
serem encaminhados para os trabalhos de desobsessão da Casa de Umbanda, abrindo
espaço e dando condições vibratórias para o trabalho dos Caboclos e Pretos
Velhos que é o de inspirar pensamentos de perdão ao pai de Carlos, de esperança
no próprio Carlos, saúde e bons eflúvios na esposa e mãe de Carlos. Através de
passes magnéticos Caboclos e Pretos Velhos transformam o campo vibratório da
casa e cuidam de seus moradores.
Enquanto tudo isso
ocorre a casa dorme, e todos são tratados em espírito.
Enquanto isso os
médiuns daquele terreiro também dormem em suas casas, mas alguns estão doando ectoplasma,
auxiliando nos trabalhos de transmutação energética. Uns participando
ativamente e outros observando e aprendendo, através do processo de desdobramento,
assistem a boa parte dos trabalhos.
Após o trabalho
realizado o Mentor da Casa sorri.
Todos estão
conscientes que de agora em diante é de acordo com o merecimento de cada um, de
cada membro dessa família, tudo dependerá do quanto cada um irá lutar para
melhorar, mas agora sem as “amarras” ou interferência do Astral Inferior.
A Umbanda através de
uma ação conjunta dos componentes da egrégora de uma Casa de Umbanda pôde proporcionar
alívio, conforto e libertação aos membros da família e auxílio aos irmãos
perdidos nas trevas da ignorância, do ódio, do rancor, do remorso e da culpa.
Mesmo que Carlos nunca
mais volte ao terreiro para agradecer a melhora, ou que nunca desperte para a
ajuda que recebeu, mesmo que o pai de Carlos nunca se perdoe, a Umbanda se fez
presente em Caridade e Amor!
Com sinceridade, após
ler tudo isso você ainda acha que Exu é o Diabo?
Acha que importa
ficarmos discutindo se Exu, a Umbanda e seus Orixás vieram da Atlântida, da
África ou do quintal da sua casa?
Se ainda resta alguma
dúvida eu afirmo a minha certeza: a Umbanda nasceu do Coração de Zambi em Sua Infinita
Misericórdia por nós!
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