segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Allan Kardec e os Druidas - Parte 1 - Introdução


Os druidas eram os sacerdotes do povo celta, uma etnia que habitava várias extensões da antiga Europa.

Essa área compreendia Portugal e Espanha a oeste, a Cordilheira dos Cárpatos a leste, a Bélgica ao norte e a Itália ao sul, passando pela Irlanda, Inglaterra, País de Gales, Escócia, França, Dinamarca, Suíça, Áustria e Alemanha.



Os druidas não limitavam sua ação à religião, acumulando a função de juízes, professores, médicos, conselheiros militares e guardiões da cultura céltica. O cargo não era exclusivo dos homens, pois também existiam druidesas.

Viviam integrados na comunidade e podiam se casar. Estimulavam os homens a combater o mal e a praticar bravuras e as mulheres a serem o ponto de união entre o céu e a terra. Júlio César os perseguiu duramente porque insuflavam a resistência ao domínio romano. Segundo o próprio Imperador, foi na Gália que ele viveu a mais árdua de suas campanhas.

Os celtas dominavam diversas áreas do conhecimento humano, como a fitoterapia, a agricultura, a tecelagem, a mineração, a cerâmica, a pecuária, a metalurgia e a astronomia. Inventaram a roda de madeira, o barril e a carroça.

No campo artístico, cultivavam a música, a poesia, a escultura, a ourivesaria e a joalheria.

O que unia os povoados, vencendo as grandes distâncias que os separavam, não era a obediência a um único rei, mas a língua, a arte e a religião.

A filosofia religiosa dos celtas era muito avançada.

Acreditavam numa Divindade única, que podia ser cultuada como homem (Deus ou o céu) ou mulher (Deusa ou a terra). Como não admitiam templos, seus cerimoniais eram realizados ao ar livre, nos campos e florestas, debaixo de grandes carvalhos.

Os celtas não eram reencarnacionistas do mesmo modo que são os espíritas. Para os celtas, a alma era imortal e podia viver muitas vidas, sim, mas não havia o conceito de carma, recompensas ou punições como no espiritismo cristão. Para os celtas não havia um julgamento e nem uma ênfase na necessidade de fazer reparações ao reencarnar. A ênfase era em passar por novas experiências e o impulso da alma não era o dever imposto por um carma, mas sim o desejo e a necessidade natural de reviver até entrar em sintonia com o mundo dos deuses - lugar perfeito em si.

Além disso, criam no livre-arbítrio, na lei de causa e efeito, na evolução espiritual, na inexistência de penas eternas, nas esferas espirituais, na existência de elementais (duendes, fadas, gnomos, etc.) e na proteção dos Espíritos superiores.

Um celta não morria, pois a morte era apenas um ponto no meio da estrada.

Um aspecto negativo da história: os druidas proibiram a palavra escrita como instrumento de preservação da história céltica, por temerem que textos escritos caíssem em mãos escusas.

Por isso, todo o conhecimento desse povo era transmitido oralmente e se perdeu muito no decorrer dos séculos.

A Gália nos tempos de Júlio César (58 a.C.)


Com a queda do grande chefe Vercingetórix, no ano de 52 a.C., toda a Gália acabou rendendo-se, pouco a pouco, aos exércitos romanos, mais treinados e portadores de armas mais leves e manejáveis. No final do Século I a.C., todos os domínios celtas, exceto a Irlanda e a Escócia, estavam submetidos a Roma. A falta de unificação política, geográfica e militar das tribos também colaborou para o sucesso de Júlio César.




Com a forte repressão política aos druidas, movida pelo Imperador, a cultura céltica foi perdendo sua força e, no final do Século I d.C., a quase totalidade dos celtas estava "romanizada" ou misturada à multidão de povos que invadiu o continente europeu.

O druidismo passou então a ser uma prática fechada e esotérica. Isso, porém, não impediu que muitos druidas aceitassem as ideias de Jesus de Nazaré, quando o Cristianismo primitivo chegou à Europa. No entanto, o nascente Catolicismo romano não aceitou esse sincretismo e ajudou a perseguir os sacerdotes celtas. Pode-se dizer que o desaparecimento dos druidas é diretamente proporcional ao crescimento e fortalecimento da Igreja Católica.

Como os grandes druidas eram conhecidos como as serpentes da sabedoria, São Patrício regozijava-se de ter acabado com as "serpentes" da Bretanha.

A vitória final teria sido de Roma se não existisse a reencarnação.
Utilizando-se desse mecanismo natural, o druida Allan Kardec renasceu no Século XIX para dar continuidade ao seu trabalho no campo científico, filosófico e religioso.

O local escolhido foi a cidade de Lyon, na atual França, antiga Gália, no ano de 1804. Seu novo nome seria Hippolyte Léon Denizard Rivail. Educado na Suíça, mudou-se, depois, para Paris, capital cultural do mundo.

Durante muitos anos, o ex-druida dedicou-se ao estudo e prática da Educação. Todavia, aos 50 anos, atraído pelos fantasmagóricos fenômenos que invadiram o globo, sua atenção voltou-se integralmente para as questões transcendentais da vida.

Convencido que os estranhos acontecimentos eram produzidos por espíritos, Rivail começou a fazer-lhes várias perguntas sobre as causas e características das coisas. Desse material saiu sua primeira obra sobre o assunto, O Livro dos Espíritos, lançada em 18 de abril de 1857. Estava inaugurada a nova filosofia espiritualista, que ele chamou de Espiritismo.

Já sabendo que era um druida reencarnado, através da revelação do Espírito Zéfiro, Rivail preferiu assinar o Livro com seu antigo nome celta, a fim de separar seu trabalho de educador do de autor espírita. Fechava-se, assim, um ciclo palingenético*pessoal e histórico.

O espírito Kardec/Rivail completava sua tarefa de condutor de almas e as grandes teses druídicas ressurgiam no bojo da novel Doutrina Espírita. Tudo sobre o mesmo solo gaulês. E eis aí uma questão a ser levada em consideração: Por que dentro do mesmo solo gaulês?

Esses fatos, porém, não aconteceram sem a resistência de uma velha inimiga dos druidas. Os mandatários da Igreja Católica tentaram denegrir o Espiritismo de várias maneiras, o que, dentro de um contexto maior, auxiliou na divulgação das Obras de Kardec.

O Espiritismo prega a liberdade do ser frente a si mesmo podendo agir de acordo com seu livre arbítrio e herdando as consequências de seus atos, deixando de permanecer sob o jugo dos pseudo-detentores do Reino de Deus. A reencarnação é fator de progresso do espírito, eliminando de vez a ideia das penas eternas.

Hoje em dia, os modernos druidas não possuem necessariamente etnia celta, da mesma forma que não é necessário ser hebreu para seguir o judaísmo ou cristianismo, e nem hindu para seguir o budismo.

Léon Denis (1846 - 1927), contemporâneo de Kardec, enfatiza em sua Obra "Le Génie Celtique et le Monde Invisible" - "O Gênio Celta e o Mundo invisível" - "Que os celtas se destacaram dentre todos os povos europeus por suas crenças espirituais. Convictos da imortalidade e da reencarnação, iam para as batalhas como para uma festa, sem temer a morte, que sabiam não existir. Seus sacerdotes, os druidas, possuíam conhecimentos iniciáticos elevados sobre a evolução da alma, os planos da existência, os astros e o Cosmo, que coincidem com a tradição da Sabedoria Oculta, inclusive na concepção do Deus único e da Lei do Carma. Não por acaso povoaram a Gália, e nela deixaram as sementes profundas dessas crenças, as energias imponderáveis de seus ritos sagrados, e a tradição mediúnica de suas sacerdotisas afeitas ao contato com o Além. Era a preparação para a futura chegada do espiritismo, cujos primeiros seguidores foram, na França, os antigos adeptos da doutrina céltica, que já traziam na alma a convicção das Leis Eternas que a doutrina dos espíritos veio restabelecer. Também por isso o Codificador adotou seu antigo nome druídico Allan Kardec - o druida-chefe, pontífice máximo de um povo."


(*) - Palingenesia - "palin" (de novo) e "gênesis" (geração) -  o que quer dizer ‘regresso à vida depois da morte’, ou seja, ‘de novo em geração’. É o espírito ‘em nova geração’, isto é, a mesma identidade espiritual em nova reencarnação.  



                                                                                                                                                                        

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